Procura-se Profetas

03/06/2013 09:43

Já não vemos os nossos símbolos; já não há profeta; nem, entre nós, quem saiba até quando. (Sl 74.9)

Não havendo profecia, o povo se corrompe; mas o que guarda a lei, esse é feliz. (Pv 29.18)

1) Afinal, o que é um Profeta e o que é Profético?

Estamos vivendo um tempo em que o uso do conceito profeta/proféticos se intensifica. É adoração profética, vigília profética, ato profético, oração profética. Chega-se à conclusão de que se quase tudo é profético, nada é profético. Há uma banalização de termo, consequência do desconhecimento real da figura bíblica do profeta e do ministério profético.

Para definir isso, me guio por um dos bons estudiosos da Bíblia, Paul Beauchamp[1], que diz: “Quaisquer que sejam as origens dos profetas, é de Deus que eles recebem a “Palavra”. O carisma profético é um carisma de revelação.” “Certamente, o SENHOR Deus não fará coisa alguma, sem primeiro revelar o seu segredo aos seus servos, os profeta.” (Amós 3.7). Esta revelação dá a conhecer ao homem o que ele por suas próprias forças não poderia descobrir. Seu objeto é ao mesmo tempo múltiplo e único. É o plano da Salvação que se realizará e se unificará em Jesus Cristo” Este entendimento foi o que a Igreja primitiva teve. Vejam como começa Hebreus: “ Havendo Deus, outrora, falado, muitas vezes e de muitas maneiras, aos pais, pelos profetas...” (Hb 1.1).

Por isso, podemos dizer que o profeta é “homem (ou mulher) de Deus”, que é estritamente o significado do nome Elias.

O que se pode observar é que na confusão religiosa em que vivemos, profetas “homens/mulheres de Deus” se multiplicam por todo lado, e se arvoram em profetizar. Mas eu estou convencido de que temos um quase silencio profético. Pois, se o ministério é chamar o povo de Deus de volta à lei de Deus, à santidade de Deus, isso significa o restabelecimento da Palavra viva de Deus sendo anunciada. Não esqueçamos: Jesus não veio abolir a lei, mas cumpri-la. (cf. Mt 5.17). E se isso fosse constante, já teríamos visto sinais na vida do povo.

Recordemos as mensagens proféticas: primeiro o anúncio de João Batista: “Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” ( Mt 3.2). “Vendo ele, porém, que muitos fariseus e saduceus vinham ao batismo, disse-lhes: Raça de víboras, quem vos induziu a fugir da ira vindoura? Produzi, pois, frutos dignos de arrependimento.” (Mt 3.7-8).

E Jesus prosseguiu: “Daí por diante, passou Jesus a pregar e a dizer: Arrependei-vos, porque está próximo o reino dos céus.” (Mt 4.17).

Esta mensagem de chamada ao arrependimento e retorno a Deus é o coração da mensagem profética, sim: denúncia do pecado e anúncio da salvação. Isso inclui, sim, as relações sobre os intentos de Deus a indivíduos e comunidades sempre no propósito de advertir e chamar para a obediência à Palavra:

Quando anunciares a este povo todas estas palavras e eles te disserem: Por que nos ameaça o SENHOR com todo este grande mal? Qual é a nossa iniquidade, qual é o nosso pecado que cometemos contra o SENHOR, nosso Deus? Então, lhes responderás:

Porque vossos pais me deixaram, diz o SENHOR, e se foram após outros deuses, e os serviram, e os adoraram, mas a mim me deixaram e a minha lei não guardaram.” (Jr 16.10-11).

 2) No rumo de um ministério profético.

Como vimos, ministério profético é aquele que recebe de Deus a Palavra e a entrega com fidelidade e integridade, não camufla a verdade como faziam os falsos profetas no Antigo Testamento: “Assim diz o SENHOR dos Exércitos: Não deis ouvidos às palavras dos profetas que entre vós profetizam e vos enchem de vãs esperanças; falam as visões do seu coração, não o que vem da boca do SENHOR.” (Jr 23.16).

A palavra profética de que precisamos, que trará a luz, é a que germina a Palavra de Deus e o seu Reino nas famílias, nas igrejas locais, uma profunda santificação em nossas vidas e o juízo de Deus sobre a nossa nação. Não virá de super pastores/as, bispos/as ou apóstolos/as, mas na convivência e comunhão de grupos de oração, discipulados, onde corações sinceros desejam conhecer a Deus e servi-lo. Ali, suscita o Senhor os dons do Espírito, entre eles, o profético. E também dos pastores/as que aplicam o coração em buscar o Senhor e ministrar a sua Palavra.

O restabelecimento do ministério profético se fez necessário em virtude da ética e filosofia de vida da nossa sociedade. Estamos contemplando uma escalada do mal: Mata-se e se prostitui com convicção que não tem problema. Temos uma cultura onde o adultério é estimulado, o importante é ter prazer, “ser feliz”. A escalada do homossexualismo desafia os princípios bíblicos e cada vez mais cristãos o toleram como “opção” de vida. Falta totalmente o temor do Senhor.

O racionalismo, relativismo, o humanismo, o hedonismo (culto ao prazer), uma ética situacional contaminando a mente dos nossos jovens e adultos, pervertendo conceito de família, mesmo a Igreja não está livre disso. Está ocorrendo uma profunda crise de valores: “Ai dos que ao mal chamam bem e ao bem, mal; que fazem da escuridade luz e da luz, escuridade; põem o amargo por doce e o doce, por amargo! (Is 5.20).

Poucos se levantam como Profetas/Profetizas e dizem: “Assim diz o Senhor...!!!” Estamos ficando por demais tolerantes, a mensagem nas igrejas é maiormente resposta a cura de doenças, ou apelos a ser próspero. Honestamente, não vejo isso na pregação dos profetas, nem de Jesus e tampouco na mensagem da Igreja Primitiva.

Recordo Samuel, apelando ao povo sobre a necessidade de arrependimento: “Falou Samuel a toda a casa de Israel, dizendo: Se é de todo o vosso coração que voltais ao SENHOR, tirai de entre vós os deuses estranhos e os astarotes, e preparai o coração ao Senhor, e servi a Ele só, e ele vos livrará das mãos dos filisteus.” (1Sm 7.3). Ou Elias, enfrentando o rei Acabe: “Então, foi Obadias encontrar-se com Acabe e lho anunciou; e foi Acabe ter com Elias. Vendo-o, disse-lhe: És tu, ó perturbador de Israel? Respondeu Elias: Eu não tenho perturbado a Israel, mas tu e a casa de teu pai, porque deixastes os mandamentos do SENHOR e seguistes os baalins.” (1 Reis 18.16-18). Mesmo Isaías usa de dureza, ao confrontar o povo com seu pecado: “Perece o justo, e não há quem se impressione com isso; e os homens piedosos são arrebatados sem que alguém considere nesse fato; pois o justo é levado antes que venha o mal e entra na paz; descansam no seu leito os que andam em retidão. Mas chegai-vos para aqui, vós, os filhos da agoureira, descendência da adúltera e da prostituta.” (Is 57.1-3).

O Novo Testamento começa como vimos com a mensagem de arrependimento de João Batista e Jesus. O ministério de Jesus em todo tempo confronta o pecado dos líderes e profetiza juízo e justiça: “Então, olhando ele para os seus discípulos, disse-lhes: Bem-aventurados vós, os pobres, porque vosso é o reino de Deus. Bem-aventurados vós, os que agora tendes fome, porque sereis fartos. Bem-aventurados vós, os que agora chorais, porque haveis de rir.” (Lc 6.20-21). “ Mas ai de vós, os ricos! Porque tendes a vossa consolação. Ai de vós, os que estais agora fartos! Porque vireis a ter fome. Ai de vós, os que agora rides! Porque haveis de lamentar e chorar. (Lc 6.24-25).

Aqui está uma preocupação e convite a darmos um sentido mais profético ao nosso ministério.

Em Cristo

Bispo Paulo Lockmann

—————

Voltar